Artistas


Série Multiplicação da Revolução - Quadrilha Intelectual




A primeira vez que ouvimos um grupo chamado #Q.I – Quadrilha Intelectual, ficamos minimamente curiosos. Logo questiono sobre a origem do nome, assim como do grupo, bem como a ideologia que o nome e grupo carrega.

Por Incrível que pareça, o nome surgiu por acidente na garagem da casa do Kalango. É uma formação de quadrilha sim, pois ao invés de agir com armas de fogo ou atitudes criminosas tentamos agir com inteligência, o que vem a ser uma junção de fatores, pois inteligência não está restritamente relacionada a conhecimento acadêmico, como já escrevemos em poesia: inteligência não está relacionada a conhecimento acadêmico, é saber pra a vida e mente aberta a todo momento. Os fatores são: humildade, respeito, analisar pessoas e situações sem nenhum tipo de preconceito, mente aberta pra aceitação de qualquer tipo de critica, e acima de tudo tratar o próximo com amor; é o que está faltando hoje em dia, e, no começo fizemos um trocadilho com o termo “quociente de Inteligência”. O grupo por sua vez, originou-se primeiramente de uma grande amizade que nem sabemos quantos anos tem, ideologias não só parecidas, mas 99% iguais, de duas pessoas diferentes. E sobre o que o grupo e nome carrega é a missão de falar a verdade e mostrar que ainda hoje, INFELIZMENTE, problemas sociais antigos são atuais e abrir os olhos da periferia/favela/gueto que “futilidade” mudou de nome, muitos a chamam de “evolução”.

Qual formação do grupo e quais principais influencias a nível de Brasil e principalmente, Distrito Federal?

A formação atual do grupo é composta por Kalango e Henrique, mas a quadrilha não para por aí, posso falar com propriedade que outras pessoas também somam direta ou indiretamente como: Markão, Glauber MC, Dj Liso e Raro, do projeto Aborígine, Jeferson, Iago e Vicente, personalidades que admiramos pessoal e profissionalmente. O grupo que fatalmente mais influenciou o Q. I foi o Facção Central, e outros como A 286, Realidade Cruel, GOG, A Família, Inquérito e temos escutado muito ultimamente Thiagão e os Kamikazes do gueto do Paraná. Do DF, nossas principais influências e admirações são: Aborígine, Radicalibres, Diga How, Glauber MC, Correndo Contra o Tempo, Arsenal do Gueto, Comando Periférico, Resgate, Dj Jamaika e queremos ressaltar a postura do grupo Voz Sem Medo que hoje no DF é um dos poucos que tem o diferencial de não só fazer o show em si, mas trocar uma ideia e passar informações construtivas no palco, e ainda o Comunicação Racial e Ocorrência Criminal que assim como nós são do Recanto das Emas.


Falem sobre o trabalho intitulado Capital da ilusão. Letra com forte conteúdo social e político. Conte-nos sobre o processo de composição e produção.

Os méritos de produção são todos do Duckjay (Tribo da Periferia). O processo de composição foi bem lento, mas natural, pois analisamos os temas a serem abordados, colocamos em tópicos e depois transformamos em rimas, também consultamos pontos de vista de amigos do RAP e fora dele, como Markão e Artok. Usamos como matéria prima a realidade social das periferias de Brasília, e como é de conhecimento de todos os que tem os olhos abertos pra atual guerra não declarada entre as classes sociais, sabem que o histórico de miséria e opressão é cotidiano das periferias a nível nacional, só tendo como diferença o calibre do armamento e quantidades de drogas de uma favela pra outra.


Quadrilha Intelectual já participou do Sarau Samambaia Poética e já lançaram poesias na internet. Qual proximidade e sobretudo quais avanços o grupo enxerga que a Literatura marginal vem provocando nas juventudes periféricas? Quais experiências em Literatura Marginal conhecem ou tem como referencias do Distrito Federal?

A proximidade é mesma que a do RAP, só que de forma mais educativa, pois até uma letra de RAP quando recitada ao invés de cantada, trás uma reflexão maior sobre o tema abordado na cabeça do ouvinte, e o avanço é justamente essa reflexão, pois em um show, de uma forma ou de outra é um pouco mais disperso que o sarau, já que no sarau há a possibilidade de fazer um debate, troca de informação e questionamentos após cada tema ou declamação, isso trás um aprendizado enorme. Falamos por experiência própria a primeira vez que fomos ao Sarau Samambaia Poética, fomos como ouvintes e depois com o apoio de amigos tivemos o privilégio de participar expondo algumas poesias. Entendeu a transformação? Vamos ser ousados em falar isso, mas o show é bom e necessário, mais os saraus têm um impacto educativo maior e formação muito mais eficaz do que o próprio show.

Temos em atividade o Sarau Samambaia Poética; Recentemente tivemos 1º Encontro de Literatura Marginal e a Bienal do Livro, e como referências temos GOG, Markão Aborígine e todos os manos que colam nos saraus. Não iremos lembrar o nome de todos, mas estão nas ruas escrevendo não só músicas, mas bons textos e expondo nos saraus pelas quebradas.


O grupo é oriundo do Recanto das Emas, periferia de Brasília. Como é ser morador, jovem e MC nesta cidade¿ Quais ações existem em prol do fortalecimento da cultura Hip Hop, e ou espaços\políticas públicas para a juventude?

Para nós é uma honra, pois moramos aqui desde o primeiro ou segundo ano de existência da cidade, sobre ser morador não é diferente das demais quebradas, pois o ensino é fraco, não temos o mínimo de assistência hospitalar, como por exemplo, há alguns meses atrás morreu um senhor no corredor do posto de saúde que diz ser 24 horas, mas só funciona quando é pra fazer filmagem daquele propaganda ridícula do GDF falando a seguinte frase: “Ta mudando pra melhor”, e vale a pena lembrar que nosso atual governador era médico e foi omisso ao se tratar da saúde e agora devasta as periferias gastando rios de dinheiro com a copa do mundo como se antes de governador tivesse sido jogador de futebol.
Sobre ser MC infelizmente somos vítimas de preconceitos, por acharem que o rap é uma música marginalizada, e as pessoas que agem com preconceito são justamente aquelas que estão no seu coração na hora de escrever uma letra.

Sobre as ações em prol do HIP-HOP nós notamos um certo regresso, pois já tivemos show que para nós foram históricos na cidade e hoje não mais, como a batalha de MC e tínhamos um evento/espaço chamado “Poeirão do Rock” que dava uma enorme oportunidade e respeito aos manos do HIP-HOP.


Daqui em diante, quais projetos o grupo tem em mente¿ O que a periferia de Brasília pode esperar do Quadrilha Intelectual¿ Artisticamente e a nível de militância, que é tão falada pelo grupo.

Lançamos o novo trabalho musical chamado ”Evolução”, e queremos finalizar outro trabalho junto com nossos amigos do Aborígine que terá o título de “Baile das Múmias”, no qual particularmente gostamos muito e apostamos muito no tema polêmico que esse novo trabalho vai causar, sobre militância além da arte, temos projetos como o de fazer um Sarau Recanto Poético, pois a atitude do coletivo ArtSam é muito inspiradora e acho que nossa cidade também precisa disso, e poder contar também com os manos da Samambaia e outras periferias para fortalecer e concretizar essa ideia.

Recentemente tivemos no encontro RECID-DF (Rede de Educação Cidadã do Distrito Federal) que para nós foi muito significativo, já que tivemos oportunidade de conhecer pessoas além do movimento HIP-HOP que também estão empenhadas em mudar a realidade atual e contar as verdadeiras histórias e não as que são contadas nos livros criados pelos opressores, logo, queremos participar mais, aprender mais, entender mais, lutar mais, fazendo jus ao o que lemos em um livro recentemente: “Onde houver opressão, sempre haverá um rebelde”, esperamos que esse “um rebelde” seja multiplicado pelo número de gotas de sangue que são derramadas nas periferias.


Agradecimentos e Contatos
Primeiramente queremos agradecer a Deus, já que permitiu que estivéssemos cedendo esta entrevista, às nossas famílias que nos dão o devido apoio, nosso muito obrigado eterno. Temos como pagar o favor e esforço do Aborígine (Markão, Glauber, Dj Liso e Raro) por ter organizado essa entrevista e nos ter dado oportunidade de expor alguns pensamentos e pontos de vista, esperamos que sejam esclarecedores e compreendidos, e pelos conselhos também, ao Jeferson e Iago que desde o começo quando o Q. I era apenas uma idéia sempre incentivaram, a Sarah e Alice que sempre quando pensamos algo novo estão do nosso lado para compartilharmos, ao Artok que nos incentivou bastante, ao Rdy (Resgate) que foi através dele que conseguimos contato com o Duckjay para produzir nossa música, ao Vicente que nos deixou honrado em criar a foto da música e está nos ajudando no novo trabalho, ao Al Unser (Subversivo) que é outro mano morador/lutador/rapper do Recanto das Emas.

Contatos: 9314-3269 ou 8575-0600.

TRABALHO NOVO:


A satisfação é toda nossa, Fiquem todos e todas com Deus e muito amor no coração.